domingo, 25 de julho de 2010

Entendendo o Mundo Evangélico – Parte II




Antes de iniciar a descrever concernente a Era da Igreja Contemporânea, época em que situa-se à atual azeda salada mista que chamo carinhosamente aqui de mundo evangélico, convém fazer uma definição de termos a fim de que se dê encaminhamento temático.

Nesta salada mista, cabe identificar o que é seita e o que é heresia.

Seita no conceito teológico significa um grupo que segue uma crença que se afasta do corpo doutrinário essencial do Cristianismo. As que mais confundem são as conhecidas como as seitas pseudo-cristãs. As cinco características básicas de uma seita são: (1) Um líder que invoca para si o poder sobre a seita; (2) Falsa doutrina acerca de Deus ou nenhuma doutrina; (3) Escritos, totens e experiências místicas competindo autoridade com a Bíblia; (4) A salvação pela graça em Cristo Jesus é desviada ou esvaziada; (5) São exclusivistas quanto à Salvação ou acham-se mais escolhidos que os demais.

Heresia é simples de entender, significa qualquer erro doutrinário que não está à luz da Bíblia. Uma igreja pode não ser uma seita, mas ser detentora de uma grande heresia. Se a heresia atinge uma doutrina capital as pessoas que a seguem podem não ser crentes genuínos, se a doutrina não atinge uma doutrina capital as pessoas que a seguem podem ser crentes genuínos. As doutrinas capitais são a Teologia/Cristologia, Soteriologia e Bibliologia.

Vimos que até a Igreja Moderna quatro correntes evangélicas no mundo protestante: a luterana, anglicana, reformada e anabatistas. No contexto nacional basta dizer que a primeira corrente é representada pelas igrejas luteranas, a segunda pelas igrejas anglicanas, a terceira pelas igrejas presbiterianas ou qualquer outra que se denomine como reformada e a quarta os batistas em geral.

No Brasil, a Era Contemporânea é marcada pelo surgimento do Movimento Pentecostal a partir de 1914 através das Igrejas Assembléias de Deus, a Igreja Pentecostal Brasil para Cristo e outras no mesmo estilo. A discussão sobre a validade do batismo do Espírito Santo e dos dons espirituais (línguas, profecias e curas) proclamados pelo movimento pentecostal é uma discussão longa entre os quatro grupos oriundos da Reforma e os postulantes do movimento pentecostal. A maioria dos teólogos tradicionais consideram o pentecostalismo uma heresia que não afeta as doutrinas capitais sendo, portanto, um movimento cristão e não uma seita.

O movimento pentecostal desenvolveu-se e pela sua permeabilidade infiltrou-se em diversos segmentos religiosos, inclusive na Igreja Católica. No catolicismo são chamados de carismáticos, no protestantismo de renovados. Assim carismáticos, renovados e pentecostais são termos sinônimos para uma mesma visão teológica quanto ao movimento pentecostal.

Assim, para entender o mundo evangélico temos agora cinco grupos os oriundos da Reforma, repetindo, luteranos, anglicanos, reformados, anabatistas e pentecostais. Entre os reformados, podemos encontrar além de igrejas presbiterianas, igrejas metodistas, episcopais ou as diretamente denominadas como evangélicas reformadas. Entre os anabatistas podemos encontrar batistas, menonitas, congregacionais, igrejas evangélicas cristãs, igrejas bíblicas, etc. Entre os pentecostais, além de assembléias de Deus e Brasil para Cristo, inúmeras outras com terminação pentecostal. Enfim, a placa da igreja diz pouco o que ela é sim sua doutrina, vale a pena pensar se ela é luterana, anglicana, reformada, batista ou pentecostal. Se alguém tiver dúvidas sobre a definição de uma determinada igreja, no Brasil, basta, por enquanto, três perguntas: É reformada, batista ou pentecostal?

Parece-nos simples se não fora mais uma confusão atual, do pentecostalismo surge diversas seitas que caracteriza um novo movimento reconhecido como neo-pentecostal. Seita porque se afastam do Cristianismo original, deixam de pregar o evangelho e passam a dar ênfase a exorcismos, curas psicológicas e prosperidade. Utilizam a Bíblia como amuleto, sua doutrina e liturgia retomam os cultos afro-brasileiros, elas têm seus donos e proclamam-se superiores às demais organizações evangélicas.


Mas de quem é a culpa da salada ter azedado de modo a não ser possível mais distinguir entre um sabor e outro, isto é, entre uma igreja e outra? Isto é assunto que responderei na terceira parte: "De quem é a culpa?"

sábado, 10 de julho de 2010

Pires à Luz

Aquele café tão doce quanto negro, como particularmente me anestesia, já tinha chegado ao fim daquele e preparava-me para partida. Enquanto elevava xícara para afastar-me do doce prazer, percebi que o pires contrário a luz restava-lhe maior sombra. Um corpo quanto mais próximo da luz mais sua trevas se evidenciam. Meditei tão somente, a epígrafe de James Houston pode estar errada quando diz: "Deus está mais próximo de nós quando temos maior consciência Dele." Para minha felicidade descubro, assim como o pires contrário a luz, que quanto mais tenho consciência de Deus, sinto-me mais distante Dele. Quanto mais aproximo-me da Luz, noto abaixo minhas trevas. Sinto-me mais pecador. Se mais próximo de Deus, vejo-o Santo e eu iníquo. Se mais próximo de Deus, vejo-o mais justo e eu réu. Vejo-O mais sublime e eu áspero. Vejo-O perdoador e eu rancoroso. Vejo-O compassivo e eu incompassivelmente... trevas, mais pecador. Desejo estar sempre perto de Deus para ver e evitar meus negros abismos.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Entendendo o Mundo Evangélico - Parte I

Resolvi chamar mundo evangélico a gama eclética de organizações religiosas que proliferam na atualidade. A diversidade como este mundo se apresenta, naturalmente confunde os não evangélicos e até os chamados evangélicos.

Recorramos, portanto, a uma breve história da igreja, conforme a visão protestante, pela qual tentaremos classificar as organizações do mundo evangélico.

O surgimento da igreja cristã está fundamentado no ministério do próprio Senhor Jesus, Ele mesmo disse: “edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16.18). Após sua morte e ressurreição, Cristo permanece quarenta dias com os seus discípulos, manda que se direcionem à Jerusalém para que recebam a promessa do Espírito Santo e então ascende aos céus.

No dia de Pentecostes, com a descida do Espírito Santo, é iniciada a igreja. Até a atualidade, a Igreja passará por cinco períodos: a Era da Igreja Primitiva, a Era da Igreja Antiga, a Era da Igreja Medieval, a Era da Igreja Reformada, a Era da Igreja Moderna e a Era da igreja contemporânea.

A Era da Igreja Primitiva corresponde ao período do ministério de seu Fundador, o Cristo, e da inauguração da igreja no dia de Pentecostes em Atos 2 até a morte do último apóstolo, o apóstolo João, de 1 a 100 d.C. É chamado também de período apostólico. 

A Era da Igreja Antiga é caracterizada pela presença dos pais da igreja e divide-se em dois períodos: o primeiro de 100 d.C. a 313 d.C. quando Constantino centraliza a igreja no poder do estado e de 313 d.C. a 590 quando surge o primeiro Papa Gregório, o grande, em 590 d.C.; a queda do Império Romano em 476 d.C. favoreceu sua ascensão como autoridade central. Durante o período da Igreja Antiga, de 100 a 590 d.C. em quatro grandes metrópoles do Império Romano são desenvolvidos cinco bispados: Antioquia, Jerusalém, Alexandria, Constantinopla e Roma. Esta última dá autoridade ao poder papal sobre a Igreja por ser a cidade-estado influenciadora.

A Era da Igreja Medieval é a mais longa e, portanto, a mais marcante sobre a história da igreja. De 590 a 1517 d.C. vários acontecimentos históricos podem ser destacados: o crescimento do poder maometano, a partir de 622 d.C.; o surgimento do Sacro Império Romano a partir de 800 d.C.; o grande cisma que provocou a separação entre igreja católica romana e ortodoxa grega em 1050 d.C.; as sete cruzadas de 1095 a 1270 d.C.; as grandes mentes medievais: Anselmo, Abelardo, Bernardo e Tomás de Aquino, de 1033 a 1274; início do Renascimento, a partir do sec. XIII; e o surgimento das primeiras tentativas de reforma com os Albigenses, 1170 d.C., os Valdenses, 1170, com João Wyclif, 1324-1384, João Huss, 1369-1415 e Jerônimo Savonarola, 1452-1498. E, em 1517, Lutero fixa suas 95 teses na porta da catedral em Wittemberg.

A Era da Igreja Reformada, de 1517 a 1648, caracteriza-se pelo desencadeamento da Reforma Protestante e da reforma católica conhecida como Contra-Reforma. A Reforma Protestante tem duas fases iniciais: primeira sob a liderança de Lutero, Zwínglio e Henrique e a segunda sob a liderança de João Calvino e João Knox.

Os postulados da Reforma Protestante podem ser resumidos em cinco pontos:

1. Sola fide – somente a Fé em Cristo é o fundamento para a Salvação, as obras são o resultado e não a causa. Justificação mediante a fé.

2. Sola Scriptura – somente a Escritura é a regra de fé e prática para o cristão e não a tradição interpretativa da igreja, pois a Bíblia interpreta a si mesma.

3. Solus Christus – somente Cristo é o único Cabeça, Chefe, Mediador e Sumo Sacerdote da Igreja; todo cristão genuíno tem um sacerdócio individual diante de Deus.

4. Sola Gratia ¬– somente graça significa que todos os nossos pecados foram pagos por Cristo na cruz, as obras não conduzem à salvação. É por ela, a graça, que se é salvo, mediante a fé, isto é crer.

A partir da Reforma Protestante no Século XVI surgem quatro movimentos protestantes distintos: Luteranos, Anglicanos, Reformados e Anabatistas.

A Era da Igreja Moderna, de 1648 a 1914, corresponde ao período da Paz de Westphalia (Fim da Guerra dos 30 anos) ao surgimento do movimento evangélico em 1914. Neste período, as igrejas serão influenciadas por diversos movimentos como o racionalismo, o pietismo, o positivismo, o fortalecimento do denominacionalismo (presibiterianos, batistas, luteranos, menonitas, anglicanos, metodistas, etc.), surgimento das seitas pseudo-cristãs (testemunhas-de-Jeová, adventistas-do-sétimo-dia, mórmons, etc), o liberalismo/modernismo teológico, em virtude deste o movimento evangélico, e finalmente, principalmente no Brasil, pelo movimento Pentecostal.

A Era Contemporânea, tema da segunda parte, pode ser entendida, tendo como princípio básico e ponto de partida o gráfico abaixo:


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