domingo, 22 de abril de 2012

Quixote - Vão-se os livros e ficam os textos


"— Tão rigorosa talvez que o seja — respondeu o nosso D. Quixote — porém tão necessária, duvido muito; porque, se se há-de dizer toda a verdade, não faz menos o soldado que executa o que lhe manda o capitão, do que o próprio capitão, que lho ordena. Venho a dizer que os religiosos, com toda a paz e sossego, pedem ao céu o bem da terra; e nós, os soldados e cavaleiros, executamos o que eles só requerem, porque a defendemos com o valor do nosso braço, e ao fio da nossa espada, não debaixo de teto, mas em campo descoberto, oferecidos em alvo aos insofridos raios do sol do verão, e aos arrepiados gelos do inverno. Deste modo, somos ministros de Deus na terra, e braço pelo qual se executa no mundo a sua justiça. E como as coisas da guerra, e as concernentes a elas, não se podem pôr em execução senão suando, cansando, e trabalhando excessivamente, segue-se que os que a professam têm sem dúvida maior trabalho que os outros, que em sossegada paz estão pedindo a Deus que favoreça aos que podem pouco. Não quero eu dizer (nem pelo pensamento me passa) que é tão bom estado o de cavaleiro andante, como o de religioso na sua clausura; só quero inferir que isto que eu padeço é sem comparação mais trabalhoso e aperreado, mais faminto e sedento, miserável, roto, e bichoso, pois é certíssimo que os cavaleiros andantes passados contavam muitas aventuras ruins no decurso de suas vidas, e, se alguns chegavam a ser Imperadores, pelo esforço do seu braço, à fé que bastante suor e sangue lhes custou; e se àqueles, que a tais graus subiram, houvessem faltado encantadores e sábios para os ajudarem, bem defraudados teriam ficado de suas esperanças."

(D. Quixote, Cervantes)

terça-feira, 10 de abril de 2012

Introdução ao Salmo 119



O maior salmo acróstico da Bíblia e também seu maior capítulo é uma coleção de observações da Palavra de Deus e seus preceitos. Todos os versos tratam das escrituras pela exposição de sinônimos, hipônimos e hiperônimos. Um acróstico do alfabeto hebraico, cada conjunto de oito versos é contemplado com uma letra hebraica; vinte e oito conjuntos, portanto. A massorá denomina este salmo como o Grande Alfabeto. A composição acróstica tem por objetivo facilitar sua memória e cantilação. Todo conjunto é uma demonstração fervorosa do salmista pela Palavra de Deus.

O secular alfabeto hebraico é consonantal. Durante a idade média, os massoretas acrescentaram os sinais vocálicos a fim de que a fonética de língua não fosse perdida. Mesmo assim, até o penúltimo século, a pronúncia da língua restringia-se a uns pouquíssimos eruditos judeus, até ganhar força com o moimento sionista e a restauração do estado de Israel.

Dividindo o salmo em outros capítulos, temos a seguinte proposta:

CAPÍTULO 1 – Álefe, as bem-aventuranças da Palavra de Deus; vs. 1-8.
CAPÍTULO 2 – Beit, Guardo a tua Palavra; vs. 9-16.
CAPÍTULO 3 – Guímel, Abre meus olhos; vs. 17-24.
CAPÍTULO 4 – Dálet, Ajuda-me a compreender; vs. 25-32.
CAPÍTULO 5 – , Dá-me entendimento; vs. 33-40.
CAPÍTULO 6 – Waw, Anunciarei as tuas ordens; vs. 41-48.
CAPÍTULO 7 – Zayin, No sofrimento, eu fui consolado; vs. 49-56.
CAPÍTULO 8 – Hêt, De todo coração, eu te peço; vs. 57-64.
CAPÍTULO 9 – Têt, Eu andava errado; vs. 65-72.
CAPÍTULO 10 – Yôd, Peço que o teu amor me console; vs. 73-80.
CAPÍTULO 11 – Caf, Sou tão inútil; vs. 81-88.
CAPÍTULO 12 – Lâmed, A tua fidelidade permanece; vs. 89-96.
CAPÍTULO 13 – Mem, Eu te amo, Senhor; vs. 97-104.
CAPÍTULO 14 – Nûn, Na Tua Luz; vs. 105-112.
CAPÍTULO 15 – Samek, Dá-me Forças; vs. 113-120.
CAPÍTULO 16 – Ayin, Age, Senhor; vs. 121-128.
CAPÍTULO 17 – , Minhas lágrimas como um rio; vs. 129-136.
CAPÍTULO 18 – Tsade, Os sofrimentos e a ansiedade me atingem; vs. 137-144.
CAPÍTULO 19 – Qof, Responde-me, Senhor; vs. 145-152.
CAPÍTULO 20 – Resh, Defende a minha causa; vs. 153-160.
CAPÍTULO 21 – Sin/Shin, Eu te louvo; vs. 161-178.
CAPÍTULO 22 – Tav, Meu grito de socorro; vs. 169-176.

domingo, 8 de abril de 2012

A Páscoa me fez lembrar



 
Hoje é domingo de Páscoa, lembrei do Cristo, mas lembrei de quem o Cristo me fez lembrar. Por alguma razão, lembrei de Ivo Maia, amigo/irmão do qual perdi contatos. Ivo segregou-se, o que sempre soube ser/fazer. Conheci este ser humano ainda no fervor de minha conversão a Cristo. Ivo, permita-me repetir diversas vezes o nome, chegara em Ceará-Mirim oriundo de Catolé do Rocha com uma grande missão, implantar o casa de recuperação a dependentes de drogas; e assim o fez. Ivo fundou a Casa de Assistência Espiritual a Dependentes de Drogas – CAEDD em Ceará-Mirim. Obra pela qual Ivo dedicou e sacrificou boa parte de sua vida e família, até mesmo uma cadela vira-lata sabida que levava e trazia recados de casa quando ter uma linha telefônica era coisa de granfinos. Como sempre visitava a CAEDD e conversava com Ivo por horas a fio, eu sabia das dificuldades que passava, a vida de semi mendicância que levou tinha um ideal, Ivo havia sido liberto do cárcere das drogas por Jesus e a única coisa que desejava na vida era ver outros jovens também livres das drogas. Um dos passatempos do desencarcerado era, dentro das diversas terapias que realizava na casa, pintar e exercitar as artes plásticas. Vi Ivo pintar de plantas proféticas, ao tabernáculo e à Santa Ceia; razão também porque dele lembrei. Por ironia da vida, sem apoio material, que já era escasso, e também espiritual, Ivo Maia abandonou o ideal e saiu perambulando por aí, por motivos diversos. Mas eu sabia onde encontrá-lo, sempre que queria vê-lo, ia para frente do Banco do Brasil no centro da cidade em Natal, Ivo estava lá, expondo suas novas pinturas, a nova razão que encontrou para viver, expor a vida pela arte, matéria em que já era perito. Eu fui embora, sem muito ter visto depois o irmão Ivo. Sei onde encontrá-lo ainda hoje no Beco das Cores, beco que ele assim denominou e morada fez.
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