segunda-feira, 2 de março de 2009

A Turma do "Pipe"



Foucault faz uma bela crítica e problematização ao quadro de René Magritte, Ceci n’est pas une pipe. Diz que o cachimbo foi desenhado com cuidado e a epígrafe o acompanha com caligrafia de convento. Frase e imagem estão dentro de uma mesma moldura. Mas a frase não condiz com a imagem. Ela poderia ter dito: Logo acima está um cachimbo; ou: Veja este cachimbo! Mas lá está, concorrendo com a imagem na moldura a frase: Isto não é um cachimbo. O que ele propõe ser uma diabrura lingüística quando signos plásticos e signos verbais contrapõem-se em um mesmo plano.



Há uma não pequena lista de teólogos, pastores, evangelistas, autores e personalidades cristãs que fumavam tanto cachimbos como charutos. É claro que a mostra desta lista não constitui uma aprovação da sua teologia ou ensinamentos, bem como da prática de fumar. Eu não precisaria dizer isto, se eu tivesse plena certeza que meus leitores não são preconceituosos e que, caso eu não faça ressalvas, entenderão que faço uma apologia ao fumo. Jamais! Mesmo porque tenho uma história de vida bastante triste com o tabaco. Perdi minha mãe aos nove anos de idade, acometida de um câncer pulmonar. Minha mãe não fumava, mas meu faleceu em consequência do fumo.

Veja abaixo:

Bach, Johann Sebastian, um dos conceituados gênios do Cristianismo que produziu inúmeras obras musicais sob um cotidiano mote particular: soli deo gloria.

Barth, Karl, um dos fundadores da neo-ortodoxia que escreveu cerca de 100 volumes para uma igreja dogmática.

Chesterton, G. K., um dos grandes defensores da ortodoxia protestante, diz-se que sua obra prima Ortodoxia foi ditada à sua secretária enquanto ele fumava um “belo” charuto.

Colson, Chuck, condenado a três anos de prisão federal por participação no escândalo Watergate, converteu-se ao cristianismo e mudou radicalmente sua vida (menos o fumo, é claro). Atualmente lidera um ministério de evangelização internacional nas prisões conhecido como Prison Fellowship, uma organização que auxilia presidiários, ex-presidiários, seus familiares, vítimas e famílias afetadas.

Erskine, Ralph, famoso pregador presbiteriano escocês do século dezoito. Sua obra consiste de paráfrases poéticas e sonetos evangélicos (The Gospel Sonnets). Tem em sua homenagem um estátua de bronze na rua principal do centro de Dunfermline.

Lewis, C. S., um dos cristãos mais proeminentes do século vinte, ex-ateu, anglicano, apologista cristão e escritor de inegáveis contribuições à literatura teológica bem como à literatura de ficção nas crônicas de Nárnia com inúmeras metáforas cristãs.

Moltmann, Jurgen, teólogo luterano da Alemanha, o homem da Teologia da Esperança, do “Reino é já e ainda não.” Recebeu em 2008 o título de doutor honois causa de nossa universidade metodista.

Ogden, Schubert, filósofo americano e ministro metodista famoso que escreveu o livro Um cristão pode fumar? Confesso que eu não gostaria de saber a resposta.

Scott, Gene, ministro fundador da Catedral Universitária de Los Angeles, uma das maiores igrejas protestantes no centro comercial da cidade. Seu estilo de ensinar é caracterizado pelas investigação e abordagem erudita na apresentação de estudos da Palavra de Deus nas línguas originais, gramática, história, teologia, ciências, psicologia e outros campos acadêmicos.

Spurgeon, Charles, ministro e teólogo cristão batista que dispensa apresentações, do qual falarei mais abaixo, foi um fumador aficcionado.

Williams, Charles, provavelmente o menos conhecido, porém provavelmente o mais talentoso teólogo, segundo C. S. Lewis, foi um escritor de ficção. Era anglicano e escreveu uma fascinante história da Igreja chamada "Descent of the Dove."

Diz-se que Billy Sunday, famoso jogador de baseball que se converteu nos idos de 1880, atendeu o chamado para o ministério e tornou-se um grande evangelista. Nas suas pregações enfatizava o enfrentamento dos problema diários e especialmente foi um voraz defensor da proibição de vícios, inclusive o de fumar. Entre as décadas de 1910 e 1920 tornou-se o cristão mais famoso do EUA.

Na virada do século vinte, Billy Sunday foi convidado para conferências no Templo Memorial Batista de Charles Spurgeon em Londres. Durante o sermão Billy pregou intensamente contra os vícios da bebida e do fumo, e que muitos cristãos não podiam fazê-lo e esperarem admissão nos céus. Diz-se que foi até educado na forma como expôs a sua pregação. No fim do culto, Spurgeon foi até o púlpito, olhou para o conferencista e disse: “De qualquer forma, meu caro. Eu irei esta noite para casa e fumarei um cigarro para a glória de Deus.”

Ficou pasmo? Eu também.

Alguém já disse que Spurgeon e outros pregadores nunca seriam membros de nossas igrejas pelo tipo de vida que consideraríamos duvidosa. Bom, ele não poderia comer uma boa pizza comigo na Bari Palesi, a não ser que eu desejasse permanecer com ele na ala asquerosa dos fumantes.

A frase “Fumarei para a glória de Deus” tornou-se um escândalo publicado no jornal The Daily Telegraph, ao qual Spurgeon tentou incessantemente justificar. No último parágrafo de sua defesa ele escreveu:

“Estou muito triste que tenha sido dado destaque ao que parece-me uma questão tão pequena, e a última coisa na minha opinião teria sido a menção dela a partir do púlpito. Porém, eu fui colocado em uma posição tal que devo, quer por meu silêncio confessar-me culpado de viver em pecado, ou então, denunciar a minha infeliz e auto-feroz censura por haver falado honestamente das medidas antitabagistas. Eu escolhi esta última, e embora eu seja o alvo para dignos irmãos, resolvo sofrer o dano mais cedo tão rápido intentem agir secretamente pelo que me estigmatizam. Eu não posso justificar-me e ganhar imunidade diante de críticas tão sorrateiramente apresentadas e seja, então, cobrado de pecado em uma prática que a minha consciência permite.”
Quando vejo essas infelizes curiosidades, faço eco e conforto-me com às palavras de Tiago 5:17 "Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu." Deus usa os homens como tais, porque não precisa deles para manifestar-se.

Retomando Foucault a despeito da diabrura do quadro, ele reconhece que nada daquilo era de fato um cachimbo, mas um texto que simulava outro texto. "O desenho de um cachimbo que simula outro cachimbo". O que me parece refletir aqui a ilusão em que Spurgeon se meteu, envolveu-se em uma argumentação nefanda para explicar que fumar não era errado, somente porque ele não encontrava o assunto taxativamente na Bíblia. Minha mãe faleceu devido ao fumo, sem fumar. Ela sofreu a conseqüência de uma prática que a consciência de alguém permitia.

Finalmente, quando a fábrica de cigarros John Player & Sons lançou a propaganda abaixo com uma epígrafe do Príncipe dos Pregadores, ao ver comprometimento de seu ministério, pôs fim a polêmica abandonando definitivamente o cachimbo.

Graças a Deus.



3 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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