terça-feira, 2 de março de 2010

Fé e Prática

 


O sertanejo, embora assim pareça, não é um só. Entre os sertanejos há diversos grupos, uns nobres e outros nem tão nobres assim. Há o vaqueiro, pastor de gado grande e miúdo; o tropeiro, navegante da caatinga na condução de víveres; o cangaceiro, justiceiro implacável; e o jagunço assassino por natureza. Há um tipo boa vida, o fazendeiro. Sem qualquer arrodeios e arreios, é natural pensar como tipos díspares, fartos do ecletismo de característica, podem figurar um só tipo de homem, como dito, o sertanejo. Esta verossimilhança sobrevém por um fator duplamente interligado, a imensidão do sertão e a ínsita necessidade de sobrevivência. O que os une é a raridade da vida no semi-árido, a odisséia de luta pela água, seu alvará de vida e pertinácia.

Em uma odisséia semelhante, os batistas são um resultado da luta pela Bíblia como sua regra de fé e prática, confiam piamente que este princípio é uma das características capitais do cristão do primeiro século. Os bereianos destacaram-se na Macedônia dos tessalonicenses porque além de receberem a palavra com toda avidez, examinavam nas Escrituras para verem nas Escrituras se as coisas pregadas pelo apóstolo Paulo eram de fato assim. Como tantos outros, aceitavam a Escritura como inspirada por Deus e útil para o ensino, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra porque homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo (At 17.11; 2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21). Em menor grau está a luta do sertanejo, em maior grau a luta do verdadeiro cristão que a história chamou-o de batista. Seja a peleja pela Água da Vida e pela água da sobrevivência constituíram-se em uma história de resistência e liberdade. 

A semelhança da gênese sertaneja, a identificação de um batista transporta consigo uma variante genealógica comungante da mesma odisséia de tipos ecléticos, alguns nobres, mas outros nem tão nobres assim que fazem o cristão genuíno e o batista parecerem um só. Em Alexandria, Orígenes recomendava a leitura da Bíblia em casa. Na Palestina, Eusébio de Cesaréia insistia para que os novos crentes familiarizassem com as Escrituras. 

Já no século IV, devido à carência de educação entre os latinos e a ausência de traduções nas línguas bárbaras, a leitura da Palavra estreitou e abriu um largo caminho para a tradição que, no decorrer do tempo, adquiriu mais e mais autoridade de supremacia. Alguns escritos digladiavam para colocarem-se no mesmo pedestal das Escrituras. Os concílios da igreja e os decretos do Bispo de Roma adquiriram cada vez mais autoridade, o Cristianismo tornou-se sertão e a primazia das Escrituras um semi-árido. Asa branca bateu asas e voou.

Analogamente ao sertanejo, nos tipos do vaqueiro, do tropeiro, do cangaceiro, do jagunço e dos fazendeiros, pela falta d’água e evasão do gado, diversos grupos cristãos: os novacianos anti-hierarquistas do III século; os donatistas espiritualistas do IV século; e os cátaros do XII século. 

Os nobres petrobrussianos no Sul da França, 1106 d.C., defendiam que as Escrituras são a única autoridade e não a tradição, os seguidores de Pedro de Bruys defendiam também que a verdadeira igreja é composta por membros regenerados, quer dizer, nascidos de novo, repudiavam a missa e as orações pelos mortos e símbolos ressignificados em edifícios, cruzes e cânticos de hinos eram idólatras.

Os valdenses “boa-vida”, motivados em Mateus 19.21, abandonaram tudo, e junto com Pedro Valdo, saíram pregando em Lião, 1150 d.C., e além que devemos obedecer às Escrituras e não ao Papa, que a missa, o purgatório e a confissão aos pés do vigário não têm fundamento bíblico, que as indulgências para pagar pecados deviam ser rejeitadas, que os leigos devem ter o direito e pregar, que os juramentos devem ser proibidos e que a mentira constituía-se em um pecado mortal.

Infelizmente, como a seca que dirime a vida e seca além do solo a alma, Roma, em 1229, proibiu aos leigos a leitura vernácula da Bíblia. Ter a Palavra na própria língua tornou-se um crime.

Os lolardos, no mesmo ímpeto daqueles, seguindo o inglês João Wycliff a partir de 1375, defenderam a interpretação literal da Escrituras, opuseram-se ao monasticismo e a transubstanciação, defenderam a nacionalização da igreja, até então imperial, e que as Escrituras deviam ser apresentadas na língua do povo.

Estes assemelhados batistas, assim como os sertanejos, na labuta que lhes era inegociável defenderam nesta odisséia no tempo e no espaço, o direito a vida espiritual na imensidão dos séculos. Nesta viagem continuada da história, João Huss, disseminando os ensinos de Wycliff e tantos outros, deu luz à Reforma. Na epopéia do sobreviver como cristão, na lida da Bíblia regra de fé e regra de prática, são estes nossos antecessores.

Diálogo entre mim e Alice

- Alice, minha filha, iremos mudar para uma casa bem menor. Okay?

- Papai, eu não me importo de ir para uma casa menor porque sei que um dia vou poder ter uma casa bem grande que ninguém nunca morou.

- Que bom! minha filha, você é muito inteligente, iremos orar, você vai estudar, ter um bom emprego, o Senhor vai lhe abençoar em tudo e poderás construir uma casa beeeem grande.

- Não, papai. Não é desse tipo de casa que estou falando. Estou falando de uma casa no céu, preparada por Jesus que ninguém nunca morou.

Alice tem 7 anos.

Microssegundos de Josué

Analogamente ao dia de Josué (Js 10.13), a NASA caculou que terremoto no Chile alterou a rotação da terra. Leia a reportagem do G1:

 

Efeito colateral - Eixo da Terra e duração do dia são afetados por grandes alterações de configuração de massa do planeta (Foto: Nasa)

Terremoto no Chile pode ter encurtado duração dos dias, diz Nasa

Cientista calculou que tremor mudou o eixo da Terra em 8 centímetros.
Abalo na região de Sumatra, em 2004, deslocou o eixo em 7 centímetros.

A rotação da Terra pode ter sido alterada como resultado do terremoto no Chile no sábado (27). O cientista Richard Gross e colegas do Laboratório de Propulsão a Jato da agência espacial americana (JPL/Nasa), rodaram um modelo computacional complexo e, em um cálculo preliminar, concluíram que o tremor de magnitude 8,8 teria encurtado a duração de um dia terrestre em 1,26 microssegundo (um microssegundo é igual a 1 segundo dividido por 1 milhão). 

Gross calculou que o megaterremoto mudou o eixo do planeta em aproximadamente 8 centímetros). Para comparação, o mesmo modelo computacional calculou que o tremor de 2004 em Sumatra (magnitude 9,1) encurtou o dia em 6,8 microssegundos e deslocou o eixo da Terra em 7 centímetros).

Gross teve a cautela de ponderar que seus números provavelmente vão mudar à medida que os dados sobre a tragédia chilena forem refinados.


 FONTE: G1, São Paulo.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...