sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Artigo "O fator religioso e sua participação para assegurar a segurança da nação e a defesa da sociedade"


Palestra proferida por David Gorodovits na Escola Superior de Guerra.


“Sonhar um sonho impossível” (versão livre de “To dream an impossible dream”, do musical “The man of La Mancha”)

Sonhar mais um sonho impossível,
Lutar, quando é fácil ceder
Vencer um inimigo imbatível
Negar, quando a regra é vender.
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar no limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar este mundo, cravar este chão.
Não importa saber se é terrível demais,
Quantas guerras terei que vencer 
Por um pouco de Paz
E se amanhã ,este chão que eu beijei
For meu leito final.
Saberei que valeu
Delirar e morrer de paixão.
Porque assim , seja lá como for,
Um dia, vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do infinito chão.

Porque escolhi as palavras deste poema para iniciar meu pronunciamento? Tentarei explicar. O dia da Independência de Israel, ou seja, o dia da proclamação do Estado de Israel, ocorre segundo o calendário religioso judaico de 5 de Iyar, que corresponde do calendário corrente a 15 de maio. Além de todas as celebrações cívicas, serviços religiosos são também conduzidas nesta data, com a recitação de salmos de louvor e agradecimento ao Eterno, pela transformação em realidade do sonho de 2000 anos de retorno a Terra Prometida. A concretização deste sonho, logo após a tragédia do Holocausto, nos conduz a pensar numa profecia de Ezekiel, que transcrevemos abaixo:

Ezequiel Capitulo 37
E pousou sobe mim a mão do Eterno e ela me transportou em espírito e me colocou no meio de um vale que estava cheio de ossos, e me fez passar por entre eles; eis que eram muito numerosos no grande vale e estavam completamente secos. E me perguntou: “Ó filho do homem! Porventura poderão estes ossos viver?” e eu respondi: “Só Tu o sabes ò Eterno”.
Então me disse: “Profetiza sobre estes ossos e dize-lhes: Ó ossos secos! Ouvi a palavra do Eterno!” Assim disse o Eterno Deus a estes ossos: “Eis que porei alento em vós e vivereis!. E porei sobre vós nervos, farei crescer sobre vós carne, vos infundirei alento e vivereis; e sabereis que Eu sou o Eterno.”
E profetizei conforme me fora ordenado, e quando profetizava ouvi um estrondo; houve uma grande comoção, e os ossos começaram a se unir, osso com osso. E observei que surgiam nervos sobre eles, e a seguir surgiu a carne, e foram cobertos de pele, mas neles não havia alento.
Então Ele me disse: “Profetiza ao alento! Profetiza filho do homem, e diz: Assim disse o Eterno Deus: Vem dos 4 ventos, ó alento, entra nestes mortos para que vivam” E profetizei como Ele havia ordenado e o alento veio a eles e viveram, e se puseram sobre seus pés, constituindo um exercito imenso.
E ele me disse: “Ó filho do homem! Esses ossos são toda a casa de Israel! Eis que dizem: Secos estão nossos ossos e perdida esta nossa esperança. Estamos totalmente acabados. Portanto profetiza e diz-lhes: Assim disse o Eterno Deus: Eis que abrirei os vossos sepulcros e de lá vos tirarei, ó Povo Meu, e vos trarei a terra de Israel! E sabereis que Eu sou o Eterno quando tiver aberto vossas tumbas e vos tiver feito sair de vossos sepulcros, ó povo Meu. Porei em vós o Meu espírito e vivereis, e vos porei em vossa proporia terra e sabereis que Eu o Eterno assim determinei e farei cumprir”.

Os sobreviventes do Holocausto, mais cadáveres que seres viventes, pareciam realmente mortos retirados de suas tumbas. Foram conduzidos através da Europa, para seguir para a terra de Israel, mas ainda tiveram que sofrer a internação em novos campos de concentração em Chipre, impedidos que estavam pela marinha da potencia mandatária. A Inglaterra tinha recebido da Liga das Nações mandato de administração sobre a Palestina, de desembarcar na terra prometida. Mesmo assim chegaram a Israel a tempo de participar da Guerra da Independência em 1948. Não será este, um milagre que ocorreu em nossa geração, da mesma dimensão dos que pontilham a estória Bíblica?
Eis uma religião, cujo povo foi expulso de sua terra há 2000 anos e que, passando por perseguições morticínios e dificuldades sem conta, sempre reanimado por sua fé continua a existir em contraste com os impérios que o tentaram destruir e há muito já desapareceram. Onde estão - Babilônia, o Império Sírio – Helênico, a Roma dos Césares, o Reich de Hitler, o Gulag de Stalin? Desfizeram-se, desapareceram na poeira dos tempos, mas os judeus continuam prestando sua colaboração para a construção de um mundo melhor, contribuindo em todos os ramos do conhecimento para o desenvolvimento da humanidade. Porque sobreviveu, e conseguiu realizar o sonho de sempre renascer? Porque viveu sempre imbuído de uma fé que não é passiva e o impulsiona à ação. Porque sua crença, não o proibia de duvidar, e pelo contrário, o fazia encontrar uma nova pergunta, quando todas as respostas estavam dadas. Porque praticou e pratica, uma ética que não é composta somente de meditação e introspecção, mas cobra responsabilidade e ação.
Mas, o que é ética? Ë a prática de um comportamento interpessoal, que conduz ao respeito mútuo, à convivência fraternal, à correspondência entre direitos e responsabilidades, à elevação conjunta do nível moral, à garantia dos direitos dos fracos e das minorias, a eliminação das soluções de divergências entre os povos através de guerras e terrorismo. É um conjunto de regras, leis e recomendações práticas e operacionais resultantes da filosofia moral de uma sociedade organizada. Talvez a segurança e a defesa da sociedade estejam fundamentadas num aspecto essencial da prática da religião Judaica, – a ética decorrente de um monoteísmo que se origina nos 10 mandamentos. Esta ética é a base do compromisso com a defesa dos valores morais, a estabilidade da sociedade, e a pratica da justiça social, que em hebraico tem o nome de Tzedaká. Esta palavra significa tanto caridade como justiça e unindo os dois conceitos teremos a perfeita definição do que é justiça social, um dos fundamentos de qualquer sociedade do mundo ocidental. Um dos livros que compõem o Talmud se chama “Pirkê Avot” e é um tratado de ética. Eis alguns exemplos dos mandamentos e das leis éticas nele contidas bem como algumas afirmações constantes do Pentateuco.

Ética e comércio - Não terás em tua casa dois pesos e duas medidas. Peso perfeito e justo terás, para que se prolonguem teus dias na terra que o Eterno te dá.(Deuteronômio 25, 14 )

Ética e comportamento social - Não amaldiçoarás o surdo, nem porás obstáculos na frente de um cego, mas temerás teu Deus ,pois Eu sou o Eterno. (Levítico 19,14 )

Ética e justiça - Justiça, e somente justiça buscarás, para que vivas e venhas a herdar a terra que o Eterno teu Deus, te dá. (Deuteronômio . 16 ,20)

Ética e amor ao próximo - Ama a teu próximo como a te mesmo (Levitico, 19, 18)

Ética e o respeito ao governo - Reza pelo bem estar do governo pois sem o seu temor os homens se devorariam vivos (“Pirkê Avot 2,3”)

Ética e guerra - Quando saíres a guerra contra teus inimigos e vires uma grande quantidade de cavalos e carros de um povo mais numeroso do que tu, não os temerás porque o Eterno teu Deus está contigo. E se dirigirá o sacerdote ao exercito e dirá: Vós vos estais aproximando da guerra contra vossos inimigos; não se amoleça vosso coração e não temais. Que o homem que edificou uma casa nova e ainda não a habitou volte para sua casa, o que plantou uma vinha e ainda não colheu que retorne a sua vinha que o homem de coração temeroso volte para sua casa para que não contamine e derreta o coração de seus irmãos.

Ética e a dedicação ao país onde vivem: Buscai promover a paz da cidade para onde vos conduzi e rezai por ela ao Eterno, pois em sua paz tereis vossa paz. (Jeremias 29,7)

Os judeus se cumprimentam com uma palavra – Shalom! Shalom significa Paz, mas na realidade significa muito mais do que isto porque na língua hebraica ela não é uma palavra passiva. .Em hebraico a pergunta “como vai.?” E expressa por “Ma’shlom chá?” que é uma abreviatura de “Ma Shalom Lechá?” que significa: Como está a tua paz? Você pode estar em paz? Fez o que lhe cabia para que haja paz? Encontramos na Torá, no livro de Miqueas 6, 8, a seguinte afirmação: “O que espera D us de ti ó ser humano, senão que saibas amar com misericórdia, agir com justiça e trilhar com humildade os Seus caminhos?” 
A maior vitória que pode ser alcançada é o estabelecimento da Paz e todos os exércitos se preparam para a luta buscando alcançar e assegurar a seu pais que ele possa existir e se desenvolver em paz. Entretanto, nem por isto deixou de haver uma resposta de luta, mesmo nas mais difíceis condições, quando isto se tornou necessário. Como afirma o Hino Nacional Brasileiro – “Mas se ergues da Justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge a luta...” Ao longo da Bíblia encontramos a narração de atos de coragem e bravura, como a luta que Abraão, com pouco mais de 300 homens, conduziu contra os 4 reis que haviam aprisionado seu sobrinho Lot conseguindo libertá-lo. A luta de David com Golias, as façanhas de Sansão, a luta contra o império sírio grego na época dos Macabeus, e as revoltas contra o domínio romano são lutas desiguais que caracterizam a coragem de quem se baseia em sua fé.
Há 70 anos atrás a barbárie nazista desencadeou a II Guerra Mundial e uma das metas de Hitler era o extermínio dos judeus. A “solução final”, o extermínio de todos os judeus dos territórios dominados pelos nazistas foi executado como tarefa prioritária, com requintes de barbárie, jamais imaginados, deixando ao termino da II Guerra Mundial um saldo de 6 milhões de judeus mortos. Não havia países que aceitassem os judeus quando eles ainda podiam sair da Europa e a Inglaterra, através de uma legislação específica, não permitia, senão a um numero tragicamente pequeno de imigrantes judeus, entrar na Palestina. Muitos atos de bravura foram praticados, quando sem armamentos, sem preparo e mesmo sem alimentos, nos campos de extermínio nos guetos e nas florestas entre os “partizans” (guerrilheiros) os judeus lutaram, sabendo que não tinham condições de vencer, mas defendendo a honra de seu povo. Vale a pena tomar conhecimento dos fatos narrados no livro “Guerrilheiros Judeus na II Guerra Mundial” escrita pelos irmãos Kimelblat.
No Gueto de Varsóvia, um levante singular obrigou os alemães a usarem um grande contingente e armamento pesado, para derrotar os judeus. Eles nos legaram o hino composto naqueles dias, que reproduzimos aqui, em uma versão livre.

Canção dos partisans do Gueto de Varsóvia

Não digas nunca que este é o ultimo caminho
Mesmo que nuvens cor de chumbo encubram o azul do céu
Há de chegar nossa tão ansiada hora,
Nossa voz há de ecoar - aqui estamos
Dos verdes trópicos e das alvas regiões nevadas, 
Com nosso pranto e nossa dor, aqui estamos
E , onde cair de nosso sangue a rubra gota
Brotará nosso valor e nosso heroísmo.
Nossa noite e o inimigo passarão
E o sol nascente há de dourar nosso amanhã
E se tardar o astro rei e nossa aurora, 
Que as gerações seja uma senha esta canção
Com sangue e chumbo foi escrito este poema.
Não é de um pássaro liberto este cantar
Mas de um povo que trazia entre as ruínas
Uma canção nos lábios e um fuzil nas mãos
Não digas pois que este é o ultimo caminho,
Mesmo que nuvens cor de chumbo escondam o azul do céu.
Há de chegar nossa tão ansiada hora
Nossa voz há de ecoar - aqui estamos.

Um dos heróis do gueto de Varsóvia, que conduziu a luta conta o exercito nazista foi um jovem de nome Mordechai Anilevitch e em memória de sua bravura foi dado a um kibutz em Israel o nome Iad Mordechai. O lugar mais sagrado de Israel é Jerusalém, a cidade de David. No dia 28 de Iyar, - 28 de Maio - se comemora a reunificação de Jerusalém, com o retorno da Cidade Velha, o Monte do Templo e o Muro das Lamentações (Kotel Hamaravi), à soberania Judaica, pela primeira vez, desde o ano 70 da era comum.
Os acontecimentos que conduziram a esta realização miraculosa, na chamada “Guerra dos Seis Dias” refletem, não somente uma façanha militar, mas também um acontecimento de profundo significado religioso. A data foi estabelecida como Yom Yerushalaim e a forma da celebração religiosa deste evento ainda está sendo formulada. Os versos do Salmo 137, chorando a saudade de Jerusalém durante o exílio babilônico, traduzem de maneira bastante clara a ligação permanente entre o coração judeu e a cidade de Jerusalém.

“Se eu te esquecer, ó Jerusalém,
Que perca minha destra de sua habilidade.
Que se pegue minha língua a meu paladar,
Se eu não me lembrar de ti, 
Se não preferir Jerusalém, a minha maior alegria”.

Nela está o que restou do Templo de Salomão - o Muro Ocidental, também chamado Muro das Lamentações. Conta a tradição que ao decidir construir o Templo, quis Salomão que não fosse apenas sua, a obra, mas de todo o povo e por isto o convocou a participar, cada qual da maneira que seus recursos lhe permitissem. Alguns trouxeram ouro, prata, madeiras preciosas e tecidos, outros contrataram artífices e artesãos dos mais renomados. Os pobres, aqueles que poucos recursos tinham, resolveram, trazer, com muito esforço, as maiores pedras que pudessem carregar. Com estas pedras foi construído o Muro Ocidental, e foi dito que, ele jamais seria destruído pois a “Shechiná” - a Presença Divina - sempre pairaria sobre ele. Com a destruição do Segundo Templo pelos romanos, os serviços divinos que lá se realizavam com as oferendas de “Korbanot”- (sacrifícios) foram substituídos pelas preces, individuais e coletivas e pelas cerimônias religiosas realizadas nas Sinagogas, sempre dedicando, parte da liturgia, a lembrar o Templo Sagrado. Por quase 2000 anos, esteve o Monte do Templo fora de mãos judias, sendo que, em alguns períodos da historia, estiveram até mesmo impedidos de ter acesso ao local que lhes era tão sagrado. Uma tradição contava que, um dia, os judeus voltariam ao Monte do Templo e ao se realizar este acontecimento, soaria um toque de Shofar (chifre de carneiro) tão extraordinário que seria ouvido no mundo inteiro.
Desde a proclamação do Estado de Israel, em 1948, que logo estabeleceu Jerusalém como sua capital, a cidade estava dividida. Numa parte estavam os judeus e na outra, contendo a parte velha de cidade, os jordanianos. Na guerra dos 6 dias, enfrentado árdua luta, os pára-quedistas de Israel avançaram pelas ruelas da Cidade Velha. Repórteres do mundo inteiro os acompanhavam, transmitindo através de seus microfones, ao vivo, tudo que se passava. Eis que num momento glorioso, conseguem os pára-quedistas chegar até o Muro, que até então era proibido aos judeus, e pela forma tradicional de marcar eventos importantes, foi tocado o Shofar pelo Rabino Goren (capelão do exercito israelense) e o som, transmitido pelos microfones dos repórteres chegou a todos os cantos do mundo, tornando realidade algo que mais parecia um sonho ou uma lenda.
Toda a cidade de Jerusalém transmite uma espiritualidade, que se manifesta, não somente junto ao muro, mas, também, nas dezenas de Ieshivot (escolas de formação religiosa) espalhadas por todos os bairros. Alguns, como Mea Shearim, fazem recordar cidades da Europa de antes da II Guerra Mundial, outros, com sua arquitetura moderna demonstram que tecnologia e fé podem estar lado a lado. Estudantes, de avançados centros universitários, técnicos, comerciantes, professores, soldados e oficiais, médicos, advogados, engenheiros, todos se unem fraternalmente nos momentos de prece.
Pela tradição judaica, o Monte Moriá (Monte do Templo) é o ponto central da criação do Mundo. Ali foi que Abraão trouxe seu filho Isaac para ser ofertado como sacrifício ao Eterno, e ali recebeu a ordem de não consumar o sacrifício e teve renovado seu Pacto com o Eterno. Foi o local escolhido por David para erigir o Templo que foi depois construído por Salomão. Após sua destruição foi o 2o Templo reerguido sobre as ruínas do primeiro. Escavações continuadas nos fazem, cada vez mais, entrar em contacto com os eventos que ali se passaram. Jerusalém foi conquistada pelo Rei David, quando venceu os Jebuseus, e ela se tornou sua capital, a Cidade de David, por volta de 1000 anos antes da era comum. A construção do Templo, no terreno comprado pelo Rei David ao rei dos Jebuseus, e o apogeu da cidade veio a ocorrer sob o reinado de Salomão, 50 anos depois.
Em 586 A.C, os Babilônios destruíram o Templo e conduziram grande parte do povo, como cativos, à Babilônia;
Em 538 A.C. Ciro, Rei da Pérsia, tendo derrotado os Babilônios promulga um édito autorizando o retorno dos judeus a sua terra.
Em 521 A.C. se completa a construção de II Templo.
Em 444 A.C. Nehemias construiu novas muralhas de proteção em volta da cidade.
Em 313 A.C., Ptolomeu I, General de Alexandre, o Grande, captura Jerusalém.
Em 167 A.C. Antioco Epifanes profana o Templo e tem lugar a Revolta dos Macabeus que culmina com a libertação de Jerusalém por Judá Macabeu, cuja vitória é até hoje lembrada na festa de Chanuká.
Em 63 D.C. Pompeu, o general romano, captura Jerusalém e em 70 Tito destrói o Templo. Alguns anos depois, entre 132 e 135 ocorre a última revolta contra os romanos, liderada por Bar Corba que mesmo após algumas vitórias é derrotado por Adriano.
Entre 614 e 629 há uma breve conquista de Jerusalém, pelos Persas, com ajuda dos judeus, seguida pela vitória de Bizâncio que reconquista a cidade.
Em 638 Jerusalém se rende ao Califa Omar.
Em 1099, os Cruzados, conduzidos por Godofredo capturam a cidade.
Em 1187 Saladino toma Jerusalém e permite aos judeus regressar e ali se estabelecer.
Em 1192 Ricardo Coração de Leão firma um acordo de paz com Saladino.
Em 1212, 300 rabinos e seus discípulos chegam da França e da Inglaterra e se estabelecem na cidade.
Em 1244 os Turcos de Khwarizmian capturam Jerusalém terminando o mandato dos Cruzados.
Em 1267 Nachmanides (grande rabino e erudito) chega da Espanha e reativa a vida judaica, construindo, sua famosa sinagoga.
Em 1260 os Mamelucos do Egito capturam a cidade e a governam durante cerca de dois séculos e meio.
Em 1516 Jerusalém é conquistada pelo sultão otomano Selim.
Em 1700 Judá, o Piedoso, com seus 1000 seguidores se estabelecem em Jerusalém.
Em 1844 o primeiro censo oficial confirma a existência de uma maioria judia na cidade.
Em 1917 Jerusalém se rende ao General britânico Allemby, cujas tropas incluíam uma legião judia.
Em 1925 se dá a inauguração da Universidade Hebraica no monte Scopus, por Lord Balfour e o discurso inaugural é proferido por Albert Einstein.
Em 1938 é inaugurado o Hospital Hadassah, no Monte Scopus.
(Foi evacuado em 1948 depois do massacre de 78 médicos e enfermeiras)
Em 1948 é proclamado o Estado de Israel tendo Jerusalém como Capital. Entretanto a Legião Árabe captura a cidade velha destruindo o bairro judeu e 58 sinagogas.
Em 1967 com a guerra de 6 dias Jerusalém é reunificada sob a soberania judaica.
Em 1977 o Presidente Anwar Al Sadat visita Jerusalém e fala no Knesset (parlamento) firmando um tratado de paz entre o Egito e Israel.
Em l996 Jerusalém comemora 3000 anos;
O poema que se segue, traduz de maneira singular o sentimento dos soldados que libertaram o Kotel do domínio Jordaniano.

PARAQUEDISTAS CHORAM

Versão livre de um poema de Chaim Chefer

Este muro, já ouviu muitas preces e lamentos.
Viu casas e muralhas ruindo.
Sentiu mãos ansiosas escondendo mensagens entre suas pedras.
Assistiu a morte de Yehuda Halevi,assassinado por profanadores.
Se manteve impassível, enquanto novos césares se erguiam e caiam.
Esteve no centro do desenrolar de tragédias.
Foi palco da marcha triste na historia de um povo vencido.
Mas nunca,
Nunca viu, nada que se comparasse a pára-quedistas chorando.
Eles vieram, estafados e feridos,
Correndo palpitantes, rugindo e lutando.
Atirando-se como loucos pelas ruelas da cidade velha.
A poeira os cobre, seus lábios tremem,
E eles murmuram “Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém”...
São ágeis como águias, valentes como leões.
Seus tanques são a carruagem de fogo de Elihau Hanavi
Eles vêm como o relâmpago
Zigzageiam entre as balas.
E atiram-se sobre o Kotel
Ei-los com o rosto colado ao muro, beijando suas pedras;
As lagrimas correm, e envergonhados, procuram contê-las.
Porque choram estes lutadores tão valentes
E do choro, passam a cantar com emoção?
Talvez seja, porque estes rapazes, tão jovens,
Que nasceram como o renascer de Israel,
Carregam em seus ombros, 2000 anos de esperanças e sonhos,
De martírio e redenção, de desespero e de lutas, de preces e pranto.
E porque, cada um deles, representa milhões de irmãos,
Que não puderam ver seu sonho realizado,
E tombaram com a esperança, de que um dia,
Um dia, deixaria de ser, apenas um sonho.
Abençoadas sejam estas lágrimas
Abençoados sejam estes pára-quedistas
Que choram, ao pé do Kotel Hamaravi libertado.

Queremos falar agora sobre a participação dos judeus na História do Brasil.

Ela se inicia com a própria descoberta de Pedro Álvares Cabral, pois seu navegador e capitão mor Gaspar de Lemos era um judeu capturado por Vasco da Gama em Goa que o fez batizar e lhe deu seu nome de família. Ele é considerado por Afrânio Peixoto e Alexander Von Humboldt como co–descobridor do Brasil.
Aliás, há duas explicações para o nome Brasil, que adveio da abundancia de uma madeira vermelha como o fogo e dura como o ferro. Alguns dizem que a origem da denominação deriva de brasa, mas há quem afirme que sua origem é a palavra hebraica barzel, que significa ferro. Em hebraico, Brasil e ferro, têm a mesma grafia.
Fernando de Noronha, dois anos após o descobrimento lidera um grupo de judeus portugueses e apresenta ao rei D.Manoel a primeira proposta de colonização do território brasileiro, que é aceita e firmada em 1503. Do contrato consta que o grupo contratado deve cultivar a cada ano 500 léguas quadradas, enviar 6 navios por ano, construir fortalezas e guarnecê-las e, a partir do terceiro ano após o inicio do contrato ficaria com 25% do valor do arrendamento. Milhares de colonos foram trazidos de Portugal e o objetivo secreto de Fernando do Noronha era utilizar a nova colônia como refúgio para os judeus perseguidos, porque a Inquisição implacavelmente ceifava continuamente vidas judias. Quando em 1531, D. João III decide mandar Martin Afonso de Souza chefiando a primeira expedição colonizadora ao Brasil ele já encontra dois interessantes núcleos de desenvolvimento, um no centro e um no sul.
Na Bahia ele é recebido por Caramuru, nome dado pelos índios a Diogo Álvares Correia, membro de uma notória família judia, que se apresenta rodeado de filhos e casado com a índia Paraguassú filha de um cacique. Tão grande é a importância de Caramuru que o rei D. João III lhe dirige em 19 de Novembro de 1548 uma carta, pedindo que ajude ao primeiro governador Geral do Brasil, Tomé de Souza. Sua aldeia se transformou no ano seguinte na primeira capital do Brasil - Salvador.
Em 1532, Martim Afonso de Souza encontra João Ramalho, cuja lendária chegada ao Brasil remonta a 1497, ano da expulsão dos judeus de Portugal. Torna-se verdadeiro líder dos índios guaianazes casando-se com Bartira, filha do cacique Tibiriçá. Ele assinava seu nome com uma letra hebraica que indicava ser ele um Cohen. Recebeu de Martin Afonso o cargo de capitão mor e sua aldeia transformou-se na primeira cidade brasileira fora do litoral – Piratininga, depois Santo André da Borda do Campo. Foi também co–fundador de São Vicente.
Citemos, de passagem algumas personalidades judias importantes sem entrar em detalhes sobre suas vidas:

Branca Dias - A primeira mestra do Brasil, casada com Diogo Fernandes. Viveram em Pernambuco por volta de 1555

Antônio Raposo Tavares - O bandeirante que partiu de São Paulo e chegou a região Amazônica

Ambrosio Fernandes Brandão - Que escreveu nossa primeira história econômica, intitulada “O diálogo das grandezas do Brasil”.

Fernão Dias Paes Leme - O bandeirante desbravador dos sertões.

Isaac Aboab da Fonseca – O primeiro rabino do Brasil. Aqui chegou com Mauricio de Nassau e dirigiu os serviços religiosos na Sinagoga, Tzur Israel (Rochedo de Israel). Ela foi restaurada, e é hoje um dos pontos visitados pelos turistas que chegam em Recife.

Garcia Rodrigues Paes – Que viveu de 1648 a 1738 e foi o primeiro construtor rodoviário do Brasil.

Jacob de Andrade Velosino – Primeiro médico brasileiro.

Antônio José da Silva, cognominado “O Judeu” - O primeiro autor de peças dramáticas no Brasil. Ele foi preso pela Inquisição no Brasil e levado para ser queimado vivo em Lisboa.

Antonio Isidoro da Fonseca – Primeiro impressor no Brasil.

Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça – Patriarca do jornalismo brasileiro.

João Antonio de Monlevade - Fundador da siderurgia no Brasil.

Lafayete Rodrigues Pereira - Autor do clássico livro sobre o Direito no Brasil.

David Moretzon Campista - O genial Ministro da Fazenda.

Joseph Krause - O audacioso negociante.

Vitor e Max Northman - Que desenvolveram o espírito de iniciativa no comercio e na industria.

Na época em que os Holandeses ocuparam o Nordeste, os judeus podiam exercer livremente sua religião sem temer os visitadores da Inquisição que levaram centenas de cristãos novos para serem queimados em Lisboa. Particularmente na época de Mauricio de Nassau chegou um grande contingente de judeus portugueses que se haviam estabelecido em Amsterdam. Muitos se dedicaram a plantação de cana e aos engenhos para produção de açúcar. Deve-se a eles a existência da indústria açucareira no Brasil.
Algumas ruas de Olinda tiveram seus nomes dados pelos judeus que em grande número ali moravam. Até hoje há famílias que mantêm certos costumes judaicos sem ter idéia de qual a sua origem. Não podemos deixar de lembrar os pracinhas que se voluntariaram para participar da Força Expedicionária Brasileira e que se destacaram por seu heroísmo. Sua estória está narrada no livro “Soldados que vieram de longe” escrito por Israel Blajberg e que conta com uma participação especial do General Ruy Leal Campelo, veterano do Regimento Sampaio da FEB e do Batalhão Suez.
Na realidade há uma imensa quantidade de famílias brasileiras cujos sobrenomes constam na relação de pessoas julgadas e punidas pela Inquisição por serem judaizantes, ou seja por se terem aparentemente convertido mas que prosseguiram vivendo segundo a religião judaica. Essas punições variavam entre queimar vivo o réu, condená-lo a prisão perpétua, tomar todos os seus bens, obrigá-lo a usar por toda a vida uma roupa infamante, torturá-lo da formas mais agonizantes para que delatasse outros judeus e no caso de terem morrido devido às torturas, terem seu cadáver queimado em praça pública. Citamos alguns nomes de família para que tenhamos uma idéia da vasta constelação de descendentes de judeus que, muitas vezes nem sabem de sua ascendência:

Abreu, Aguiar, Albuquerque, Alonso, Álvares, Amaral, Antunes, Azeredo, Azevedo, Barata, Barreto, Bastos, Belmonte, Bentes, Bispo, Bonsucesso, Brandão, Bueno, Cabral, Callado, Cardoso, Castelo, Castelo Branco, Chaves, Collaço, Cruz, Cunha, Dantas, Diniz, Duarte, Escobar, Esteves, Falcão, Feijó, Figueiredo, Flores, França, Galvão, Garcia, Gomes, Henriques, Jordão, Leal, Leão, Leitão, Leite, Lourenço, Lucena, Machado, Magalhães, Maldonado, Martins, Mascarenhas, Mello, Mesquita, Monteiro, Monsanto, Moreira, Moreno, Nogueira, Novaes, Nunes, Olivares, Paiva, Pantoja, Penha, Perdigão, Pimentel, Pinto, Queiroz, Rabelo, Raposo, Ribeiro, Rodrigues, Rozado, Salvador, Sandoval, Sequeira, Silva, Simões, Sodré, Souto Mayor, Tavares, Trindade, Uchoa, Vargas, Vasconcelos, Villa-Lobos, Xavier.

Nós que aqui estamos somos pessoas que precisam tomar decisões, avaliar situações e fazer julgamentos. Numa época em que parece não haver mais valores morais, em que escândalos e atos ilícitos, ou pelo menos aparentemente ilícitos, são noticiados diariamente nos jornais, encontramos nesta instituição um exemplo de seriedade e dedicação aos princípios morais que são ou deveriam ser o apanágio de toda a nação brasileira. Que critérios devem ser adotados por aqueles que tomam decisões que vão afetar o progresso e o destino do país? Encontramos descritas na Bíblia as qualidades que devem ser inerentes a quem tem a responsabilidade de avaliar situações e ministrar justiça. No livro de Êxodo, no Capitulo 18, encontramos uma passagem na qual Moises, mesmo sendo o profeta sempre voltado para o cumprimento dos mandamentos Divinos, recebe de um pagão, seu sogro, uma orientação sobre como deve ser feita a escolha das pessoas que o poderão ajudar a ministrar justiça para todo o povo, que foi valida naquela época e assim continua até hoje: “Deves procurar, dentre todos aqueles que têm capacidade de liderança, os que são tementes a Deus, falam somente a verdade, odeiam a injustiça e não aceitam suborno, pois somente assim administrarão com retidão todos os seus atos”.
Cada ser humano recebe do Eterno uma função a ser desempenhada ao longo de sua vida e uma das bênçãos que todos procuram merecer é a de ter a consciência tranqüila pela certeza de que a cumpriu plenamente. Vivemos num país Abençoado com a maior variedade de recursos naturais que possa existir na terra, com um povo trabalhador, inteligente, generoso e é preciso ter como meta usar de todos estes recursos para que não haja fome, desemprego e miséria.
A sucessão de crises econômicas que têm assolado os mercados internacionais têm sido superados pelo Brasil com soluções criativas, trabalho árduo e a dedicação e responsabilidade de toda a nação. Estamos acostumados a elevar nossas preces, cada um dentro de sua crença, em momentos especiais de nossa vida, mas o próprio comportamento do ser humano, sua forma de agir, de atuar em seu trabalho cotidiano, precisa ser coerente com o conteúdo de suas orações, e a cada vez que escolhemos como alternativa, agir por critérios de ética, correção e apuro técnico, estaremos cumprindo a missão que nos foi designada não somente por nossos superiores na hierarquia , mas também pelo próprio Criador.
O Eterno concedeu ao ser humano, a capacidade de continuar a obra da criação, de usar sua criatividade para tornar o mundo melhor, de buscar os meios através dos quais todos os habitantes da terra possam participar das benesses que Ele Concede. Atravessamos momentos de preocupação econômica e social, não somente em nosso país, mas em quase em todo o mundo. As tarefas desempenhadas, até agora, por cada um, não lhe concedem o direito de considerar que seu dever já foi cumprido. È crescente a responsabilidade para com a sociedade numa época em que as jovens gerações precisam se mirar em exemplos de dignidade para se sentirem motivados a trilhar os caminhos que os conduzirão a serem cidadãos que contribuam efetivamente para o bem estar de todos e para o crescimento da nação. Será que soubemos todos colocar sempre responsabilidade acima de interesses pessoais? Dignidade acima de vantagens? Que seja renovado no ano, que pelo calendário religioso judaico se vai iniciar em breve, o compromisso de assim proceder para que possam todos sentir que suas vidas estão isentas de omissão, e plenas de realizações positivas. Que os anos que estão a nossa frente, até chegar o momento do balanço final, perante o Juiz Supremo, permitam a todos, reafirmar: - Cumpri a tarefa que me foi destinada pelo Eterno e as realizações de minha vida contribuíram para, dentro das limitações que caracterizam a cada um de nós, tornar o mundo melhor.
Unamos nossos corações e nossas mentes, cada um dentro de sua fé, para fazermos uma prece conjunta: Oh Eterno, que dos Céus nos Escutas, Pedimos Tua Benção para o Brasil, para aqueles que o governam, para todos aqueles que em justiça exercem sua autoridade e para cada um dos componentes de nosso povo, do mais humilde ao de posição mais elevada. Ensina a cada um a Essência de Tua Lei para que possam todos contribuir, em nosso País, para que haja Paz e Segurança, Felicidade e Prosperidade, Justiça e Liberdade. Abençoa a cada um de seus habitantes, para que trabalhem e construam em paz e harmonia, formando uma grande fraternidade entre aqueles que aqui nasceram e aqueles cujos destinos, de terras distantes, Conduziste até aqui. Inspira-lhes criatividade e disposição para que tornem subdesenvolvimento, uma palavra do passado, dependência econômica, algo desconhecido, crise econômica e pobreza, uma etapa superada, progresso e desenvolvimento tecnológico um fator de bem estar público. Que nenhuma influencia maléfica possa florescer em nosso meio, e que seja o Brasil um exemplo de um país que constrói em harmonia, se desenvolve em segurança e convive em justiça e fraternidade. Concede sempre ao Brasil, Ó Eterno, as Bênçãos da Paz da Ordem e do Progresso.

Bibliografia parcial
1 – Bíblia Hebraica - David Gorodovits e Jairo Fridlin Editora e Livraria Sefer Ltda.
2 – Vultos Judaicos no Brasil - Kurt Lowestamm
3 - A Ética do Sinai - Irving Bunin Editora e Livraria Sefer Ltda.
4 - Na Espiral do Tempo - David Gorodovits Editora e Livraria Sefer Ltda.
5 – Raízes Judaicas do Brasil - Flávio Mendes Carvalho
6 - História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal - Alexandre Herculano Livraria Bertrand (Lisboa)
7 – Soldados que vieram de longe - Israel Blajberg
8 – Guerrilheiros Judeus na Segunda Guerra Mundial - Isaac e Natan Kimelblat
9 – Uma Olinda Judaica José Alexandre e Jacques Alberto Ribemboim Edições Bagaço Recife
10 – Bandeirantes Espirituais - Rabino Y. David Weitman

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