sábado, 12 de setembro de 2009

Calvino em Berkhof

Os parágrafos abaixo são excertos da Teologia Sistemática de Berkhof acerca da teologia de Calvino, servem à pesquisa, não representam integralmente a posição desta coluna nem do site.




Para Calvino, Deus, nas profundezas do Seu Ser, é insondável. "Sua essência", diz ele, "é incompreensível; desse modo, Sua divindade escapa totalmente aos sentidos humanos".

Calvino também fala da essência divina como incompreensível. Ele sustenta que Deus, nas profundezas do Seu Ser, está fora de alcance. Falando do conhecimento do Quid e do Qualis de Dues, diz ele que é inútil especular sobre o primeiro, ao passo que o nosso interesse prático jaz no segundo. Diz ele: "Simplesmente, brincam com frígidas especulações aqueles cuja mente se fixa na questão do que Deus é (Quid sit Deus), quando o que realmente nos interessa saber é, antes, que espécie de pessoa Ele é (Qualis sit) e o que é apropriado à Sua natureza". Conquanto ele ache que Deus não pode ser conhecido à perfeição, não nega que possamos conhecer algo do Seu Ser ou da Sua natureza. Mas este conhecimento não pode ser conhecido por métodos a priori, mas somente de maneira a posteriori, mediante os atributos, que ele considera como reais determinativos da natureza de Deus. Eles nos transmitem ao menos algum conhecimento do que Deus é, mas, especialmente, do que Ele é em relação a nós.

Daí diz Calvino: "Então, com pessoa, quero dizer uma subsistência na essência divina – uma subsistência que, conquanto relacionada com as outras duas, distingue-se delas por suas propriedades incomunicáveis"

Calvino sustentou firmemente a doutrina agostiniana da predestinação dupla e absoluta. Ao mesmo tempo, em sua defesa da doutrina contra Pighius, deu ênfase ao fato de que o decreto concernente à entrada do pecado do mundo foi um decreto permissivo, e que o decreto de reprovação deve ter sido elaborado de maneira que Deus não fosse o autor do pecado, nem responsável por este, de modo nenhum.

Os nossos padrões confessionais não falam somente de eleição, mas também de reprovação.* Agostinho ensinou a doutrina da reprovação, bem como a da eleição, mas essa "dura doutrina" enfrentou muitíssima oposição. Em geral os católicos romanos, e a grande maioria dos luteranos, arminianos e metodistas, rejeitam esta doutrina em sua forma absoluta. Se ainda falam de reprovação, é somente de uma reprovação baseada na presciência. É mais que evidente que Calvino tinha consciência da seriedade desta doutrina, pois fala dela como um "decretum horribile" (decreto terrível). Não obstante, não se sentiu com liberdade para negar o que ele considerava uma importante verdade da Escritura.

A posição que Calvino toma sobre este ponto [da reprovação] é claramente indicada nos seguintes pronunciamentos, que se acham nos Calvin's Articles on Predestination (Artigos de Calvino sobre a Predestinação):

"Embora a vontade de Deus seja a suprema e a primeira causa de todas as coisas, e Deus mantenha o diabo e todos os ímpios sujeitos à Sua vontade, não obstante, Deus não pode ser denominado causa do pecado, nem autor do mal, e nem esta exposto a nenhuma culpa".

"Embora o diabo e os reprovados sejam servos e instrumentos de Deus para a execução das Suas decisões secretas, não obstante, de maneira incompreensível, Deus de tal modo age neles e por meio deles que não contrai nenhuma mancha da perversão deles, porque utiliza a malicia deles de maneira justa e reta, para um bom fim, apesar de muitas vezes estar oculta aos nossos olhos essa maneira".

"Agem com ignorância e calunia os que dizem que, se todas as coisas sucedem pela vontade e ordenação de Deus, Ele é o autor do pecado; porque não fazem distinção entre a depravação dos homens e os desígnios ocultos de Deus"

A doutrina da predestinação não tem sido apresentada sempre da mesma forma. Principalmente desde os dias da Reforma, emergiam gradativamente duas diferentes concepções que, durante a controvérsia arminiana, foram designadas como Infra e Supralapsarianismo. Diferenças já existentes foram definidas mais agudamente e foram acentuadas mais enfaticamente como resultado das discussões teológicas daquele tempo. De acordo com o dr. Dijik, os dois conceitos em foco eram, na sua forma original, apenas uma diferença de opinião sobre se a queda do homem também foi incluída no decreto divino. O primeiro pecado do homem, que constitui sua queda, foi predestinado, ou foi meramente objeto da presciência divina? Em sua forma original, o supralapsarianismo sustentava a primeira posição acima, e o infralapsarianismo, a segunda. Neste sentido da palavra, Calvino evidentemente era supralapsário. O desenvolvimento posterior da diferença entre ambos os conceitos começou com Beza, o sucessor de Calvino em Genebra. Nesse desenvolvimento, o ponto original em discussão retira-se aos poucos para os fundos, e outras diferenças são levadas para o primeiro plano, sendo que algumas delas não passam de diferenças de ênfase.

Base Bíblica da doutrina da criação do nada. Gn 1.1 registra o início da obra da criação, e certamente não apresenta Deus produzindo o mundo com material preexistente. Foi criação do nada, criação no sentido estrito da palavra e, daí, a única parte da obra registrada em Gn 1 a que Calvino aplica o termo.

Como os anjos bons, os anjos maus também possuem poder sobre-humano, mas o uso que dele fazem contrata-se tristemente com os dos anjos bons. Enquanto estes louvam a Deus perenemente, libram Suas batalhas e O servem com fidelidade, aqueles, como poderes das trevas, prestam-se para maldizer a Deus, pelejar contra Ele e Seu Ungido, e destruir a Sua obra. Então em constante rebelião contra Deus, procuram cegar e desviar até os eleitos, e animam os pecadores no mal que estes praticam. Mas são espíritos perdidos e sem esperança. Agora mesmo estão acorrentados ao inferno e a abismo de trevas e, embora não estejam ainda limitados a um lugar só, no dizer de Calvino, contudo, arrastam consigo as suas cadeias por onde vão, 2 Pe 2.4; Jd 6.

Calvino, por outro lado, apoiou decididamente o criacionismo. Diz ele, em seu comentário de Gn 3.16: "Tampouco é necessário lançar mão da antiga ficção de certos escritores, de que as almas são derivadas por descendência dos nossos primeiros pais". Desde a época da reforma, tem sido sempre esta opinião comum nos círculos reformados (calvinistas). Não significa que não há exceções à regra. Jonathan Edwards e Hopkins, na teologia da Nova Inglaterra, favoreciam o traducionismo. [Modernamente, os batistas regulares são exemplos de traducianistas]

A doutrina da imagem de Deus no homem é da maior importância na teologia, pois essa imagem é a expressão daquilo que é mais distinto no homem e em sua relação com Deus. O fato de ser o homem imagem de Deus distingue-o dos animais e de todas as outras criaturas. Quando podemos saber da Escritura, até mesmo os anjos não compartem com os homens essa honra, embora às vezes o assunto seja apresentado como se compartissem. Calvino chega a dizer que "não se pode negar que os anjos também foram criados à semelhança de Deus visto que, como Cristo declara (Mt 22.30), a nossa perfeição suprema consiste em sermos semelhantes a eles". Mas nessa declaração o grande reformador não leva devidamente em conta o ponto especifico da comparação presente na afirmação de Jesus. Em muitos casos, a suposição de que os anjos também foram criados à imagem de Deus resulta de uma concepção da imagem que a limita às nossas qualidades morais e intelectuais. Mas a imagem inclui também o corpo do homem e seu domínio sobre a criação inferior. Os anjos jamais são apresentados como da criação, mas como espíritos ministradores enviados para servir aos herdeiros da salvação. As mais importantes concepções da imagem de Deus no homem são as que damos a seguir.

Diz Calvino que a verdadeira sede da imagem de Deus está na alma, embora alguns raios da sua glória brilhem também no corpo. Acha ele que a imagem consistia especialmente naquela integridade original da natureza do homem, perdida por causa do pecado, integridade que se revela no verdadeiro conhecimento, justiça e santidade. Ao mesmo tempo ele acrescenta "que a imagem de Deus abrange tudo que na natureza do homem sobrepuja a de todas as outras espécies de animais"

[Quanto ao hades], Calvino interpreta a frase metaforicamente, entendendo que se refere aos sofrimentos penais de Cristo na cruz, onde Ele sofreu realmente as angústias do inferno.

Diz Calvino, a saber, que a declaração de que Cristo assentou-se à destra de Deus equivale a dizer "que Ele foi instalado no governo de céus e terra, e foi formalmente admitido na posse da administração a Ele confiada, e não somente admitido por uma vez, mas para continuar até quando Ele descer para o juízo".

Diz Calvino: "Interessava-nos profundamente que Aquele que havia de ser o nosso Mediador, fosse verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Se se indagasse sobre a necessidade, esta não era aquilo que comumente se chama necessidade simples ou absoluta, mas, sim, a que promanou do decreto divino, do qual dependia a salvação do homem. O que era melhor para nós, nosso misericordioso Pai determinou"

Calvino não concordava com a posição de Lutero, nem com a de Zwínglio. Ele sustentava firmemente que o homem natural não pode, por si mesmo, fazer nenhuma obra boa, e insistia vigorosamente na natureza particular da graça salvadora. Ao lado da doutrina da graça particular, ele desenvolveu a doutrina da graça comum. Esta graça é comunal, não perdoa nem purifica a natureza humana, e não efetua a salvação dos pecadores. Ela reprime o poder destrutivo do pecado, mantém em certa medida a ordem moral do universo, possibilitando assim uma vida ordenada, distribui em vários graus dons e talentos entre os homens, promove o desenvolvimento da ciência e da arte, e derrama incontáveis bênçãos sobre os filhos dos homens.
Calvino sugere alguns deles, quando, ao falar da influência restringente da graça comum, diz: "Daí, por mais que os homens disfarcem a sua impureza, alguns só são impedidos de irromper em muitos tipos de iniqüidade pela vergonha, outros pelo temor das leis. Alguns aspiram a uma vida honesta, julgando que favorece mais aos seus interesses, enquanto outros são elevados acima da sorte vulgar para que, pela dignidade da sua posição social, se mantenham inferiores aos seus direitos e deveres. Assim Deus, por Sua providência, refreia a perversidade da natureza, impedindo-a de entrar em ação, mas sem torna-la interiormente pura"

Segundo Calvino, o chamamento do Evangelho não é eficiente em si mesmo, mas lhe é dada eficácia pela operação do Espírito Santo, quando Este aplica salvadoramente a Palavra ao coração do homem; e esta aplicação é feita somente aos corações e vidas dos eleitos. Deste modo, a salvação do homem é obra de Deus, do começo ao fim. Por Sua graça salvadora, Deus não somente capacita o homem, mas também o leva a dar ouvidos ao chamamento do Evangelho para a salvação. Os arminianos não ficaram satisfeitos com esta posição, mas virtualmente retornaram ao semipelagianismo da Igreja Católica Romana. Segundo eles, a proclamação universal do Evangelho é acompanhada pela graça universal suficiente – "uma assistência graciosa real e universalmente outorgada, suficiente para habilitar todos os homens para, se o quiserem, alcançar a plena posse das bênçãos espirituais e, finalmente, a salvação". Mais uma vez se faz que a obra de salvação dependa do homem. Isto marcou o início de um retorno racionalista à posição pelagiana, que nega inteiramente a necessidade de uma operação interna do Espírito Santo para a salvação.

Calvino também usava o termo [reneração] num sentido muito compre, como um designativo de todo o processo pelo qual o homem é renovado, incluindo, além do ato divino que origina a nova vida, também a conversão (arrependimento e fé) e a santificação.

Diz Calvino: "Teremos então uma completa definição da fé se dissermos que ela é um firme e seguro conhecimento do favor de Deus para conosco, fundado na verdade de uma promessa gratuita em Cristo, e revelada às nossas mentes e selada em nossos corações pelo Espírito Santo".

Falando da ousadia com que podemos aproximar-nos de Deus pela oração, diz ele: "Essa ousadia brota da confiança no favor e na salvação divinos. Tanto é verdade, que o termo fé é usado muitas vezes como equivalente de confiança"

Calvino e alguns dos teólogos reformados mais antigos falam ocasionalmente como se este elemento constituísse a justificação completa.

Calvino e os teólogos reformados estavam de acordo com Lutero quanto à confissão de que a igreja é essencialmente uma communio sanctorum, uma comunhão de santos.

Calvino define a igreja como a "multidão de pessoas espalhadas pelo mundo, que professam adoração a um só Deus em Cristo; são iniciadas nesta fé pelo batismo; dão testemunho da sua unidade e amor por sua participação na Ceia; estão de acordo na Palavra de Deus, e pela pregação dessa Palavra mantêm o ministério ordenado de Cristo".

Calvino e a teologia reformada partiam da pressuposição de que o batismo foi instituído para os crentes, e não produz, mas fortalece a nova vida.

Com a posição de Calvino, segundo a qual, os filhos pequenos de pais crentes, ou aqueles que têm somente um dos pais crentes, são batizados com base em sua relação pactual.

Com relação ao batismo de crianças, Calvino vê ocasião aqui, agora que ele tomou a perspectiva da aliança, para traçar linha mais longa.

Calvino defendia uma posição intermediária. Como Zwínglio, ele negava a presença corporal do Senhor no sacramento, mas em distinção de Zwínglio, insistia na presença real, ainda que espiritual, do Senhor na Ceia, na presença dele como uma fonte de virtude ou poder e eficácia.

Calvino e as igrejas reformadas (calvinistas) entendem metaforicamente as palavras de Jesus: "Isto é (isso é, significa, simboliza) o meu corpo"

Dabney rejeita positivamente a apresentação feita por Calvino, segundo a qual o comungante participa do próprio corpo e sangue de Cristo no sacramento. Sem dúvida, este é um ponto obscuro na exposição de Calvino.

Entre os socinianos e ao anabatistas houve alguns que reviveram a antiga doutrina, sustentada por alguns da Igreja Primitiva, de que a alma do homem dorme desde a hora da morte até à ressurreição. Calvino escreveu um tratado para combater essa idéia. A mesma noção é defendida por algumas seitas adventistas e pelos da aurora do milênio.

Calvino chegou a escrever um tratado contra eles, intitulado Psychopanychia. No século dezenove esta doutrina era propugnada por alguns dos irvingitas* da Inglaterra, e nos nossos dias é uma das doutrinas favoritas dos russelitas ou dos sectários da aurora do milênio nos Estados Unidos.

Calvino, sobre: conhecimento de Deus, 31, 45; pessoas da Trindade, 89; predestinação, 11; reprovação, 117; anjos, 142; origem da alma, 197; imagem de Deus no homem, 202, 203; imagem de Deus nos anjos, 206; descida ao hades, 341, 343; o assentar-se Cristo à destra do pai, 353; necessidade da expiação, 370; graça comum, 431, 435; meios da graça comum, 441, 442; frutos da graça comum, 443; vocação divina, 461; uso do termo “regeneração”, 468; fé, 499-500; justificação, 518; igreja, 564, 568; batismo, 632; base para o batismo de crianças, 644, 646;Ceia do Senhor, 652, 655, 660; sono da alma, 695.


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