segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A Igreja de Consumo


“Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus.” Disse o apóstolo Paulo em 2 Coríntios 2:17. O verbo grego “kapeleuo” traduzido por “mercadejar” tem a origem no mascate, um varejista do período neo-testamentário, era o profissional autônomo que ganhava dinheiro com a venda de algo. O termo tinha um significado, a princípio, negativo e é como o apóstolo utiliza neste verso, muitas vezes porque o mascate conseguia o ganho sordidamente sob o bordão “fazemos qualquer tipo de negócio”, induzindo-o a lucratividade ilícita. O uso negativo do termo serviu para responsabilizar aqueles que já no tempo de Paulo negociavam com a Palavra de Deus e buscavam obter ganho ilícito utilizando-se da verdade divina, corrompendo e adulterando-a assim como os mascates adulteravam habitualmente suas mercadorias para aumentarem seus lucros.

Em tempos recentes, observamos alastrar-se na América Latina, principalmente no Brasil, a recente igreja de consumo que está ligada ao conceito de sociedade de consumo e da economia de mercado, entendendo-se por economia de mercado aquela que encontra o equilíbrio entre oferta e demanda através da livre circulação de capitais, produtos e pessoas, sem a intervenção do Estado.



Os pilares da sociedade de consumo são a demanda, a normalização, a massificação e o consumismo.  Na demanda, para a maioria dos bens de consumo, a oferta extrapola a procura, fazendo com que empresas recorram a estratégias de “marketing” agressivas e sedutoras que induzem o consumidor a consumir cada vez mais, favorecendo o escoamento da produção. A normalização ratifica os métodos da produção em série, recorrendo a estratégias de obsolescência programada que permita o escoamento permanente dos produtos e serviços que, por sua vez, são descartáveis. A massificação faz com que o consumo adquira abrangência na sociedade manobrada fazendo-a consumir apenas o que está em moda como forma de integração social. E, por fim, o consumismo, a geração comportamental impulsiva, descontrolada, irresponsável e irracional na aquisição do produto de massa. A sociedade de consumo estabelece necessidades fictícias como tomar uma marca de refrigerante quando se está com sede ou comer determinado “fast food” quando se está faminto, já que um simples copo de água e um corriqueiro prato caseiro podem satisfazer. Não dá para isolar-se dessa sociedade, entretanto devemos ser conscientes e termos uma posição crítica a ela.

Esta igreja de consumo, do mesmo modo, busca estabelecer “necessidades” em uma demanda, oferecendo “serviços” como a expulsão de demônios, o aplacamento de maldições, promessa de enriquecimento, vida regalada, felicidade et cétera que bem maior do que as pessoas necessitam buscar, desde então a recorrência agressiva e permanentemente divulgada na mídia televisiva e radiofônica. Depois uma normalização de campanhas com tempo e períodos certos, cada uma delas descartando o serviço da campanha anterior. Com isso, uma massificação para manobrar a população. Não é à toa que estas igrejas reúnem em grandes redes com os devidos nomes massificadores como internacional, mundial, universal. Não participar de qualquer delas ou ser “evangélico”e não for de alguma delas é não incluir-se como povo de Deus. Enfim, o consumismo pelos serviços espirituais, é preciso estar “descarregado”, rico, empregado, morar em mansões e possuir automóveis novos de ponta linha. E isto só pode ser conseguido depositando variadas quantias para os líderes das redes de igrejas de consumo como um cidadão em dívidas continua comprando compulsoriamente.

Porém, a igreja de consumo está com seus dias marcados, ela não trouxe os sonhos que prometeu. Aliado a isso, a necessidade real para qual a igreja verdadeira tem missão é a espiritual, necessidade para qual a igreja de consumo, por ser mercadológica, nunca soube satisfazer.

Chegou a hora da igreja ortodoxa, aquela que permaneceu firmeme na pregação do evangelho verdadeiro apesar da deturpação dos mascates da fé. E somente ela pode encaminhar o homem à salvação, à verdadeira espiritualidade, à verdadeira doutrina, à verdadeira moral e simplicidade da vida cristã.

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