terça-feira, 7 de setembro de 2010

Independência ou Morte


A epígrafe expõe o mais básico conflito do ser humano, tanto quanto paradoxal, porque para ser livre de alguma coisa é necessário ser escravo de outra. O apóstolo Paulo retoma esta idéia, para ser livre, independente, de Cristo, necessário é tornar-se escravo do pecado. A recíproca também é verdadeira, para ser livre do pecado é necessário ser servo de Cristo. Este paradigma fundamental do viver cristão é vivido também na vida secular. 

A construção de uma nação envolve muitos fatos históricos desagradáveis, como colonização, escravidão, guerras, exceções e tragédias humanas; todavia, antiteticamente a nação não existiria sem elas. Tornar-se independente foi ab-rogar os laços do colonizador, antropofagizar a cultura para uma nova reconstruir, tomar a argamassa de sangue e solo e perfazer uma ordem social no espaço de conquista das três raças fundadoras e outras mais que conosco residem. 

Esta nova ordem ocorre quando uma vez o colonizador tornado inimigo, uma vez expulso, é também convocado para ser amigo e irmão. No grito de independência, há rigor, mas há perdão. Tão necessário à construção da nação, pois a nossa memória somente existe se há um plebiscito diário para lembrar e esquecer, lembrar para exaltar e esquecer para desmemoriar a tragédia, para perdoar. Nossos símbolos pátrios: o hino, a bandeira, o selo nacional; são símbolos de perdão. Os nossos heróis agentes desse perdão. Símbolos e heróis representam o nosso pacto enquanto nação, traumas esquecidos para que o Brasil tenha “Ordem e Progresso.” Quem melhor perdoa é quem melhor esquece. 

Neste exercício da independência, no mesmo dialogismo paulino, é necessário haver ainda quem sirva, para que outros sejam livres, quem permaneça escravo a serviço, “tal como o Filho do Homem (Cristo), que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mateus 20:28). 

Na morte de Cristo uma inimaginável comunidade de seguidores se formou porque ele os chamou à liberdade. A conversão é este momento em que a tragédia pessoal, não mais objetiva e sim subjetiva, encontra-se com a necessidade de romper com os laços antigos de opressão para poder em Cristo refazer-se em sujeito em um novo devir, pois “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão.” (Gálatas 5:1) Finalmente, daquilo que não somos independentes, somos fatalmente escravos. Neste caso, se independência é oposto de morte, logo raciocina-se que independência é vida, mas que ela não existe sem uma necessária servidão, seja de nós por outros ou de outros por nós.

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